segunda-feira, 25 de julho de 2022

A tragédia de Hamlet

Por:

Clara Móz





1. A peça começa com a misteriosa morte do rei da Dinamarca. Seguido de sua morte, sua

esposa, Gertrudes, casa-se com seu cunhado, Cláudio, fazendo-o tio-padrasto de Hamlet (o

filho do rei falecido).


Logo na primeira cena, Horácio (amigo de Hamlet), avista o fantasma do rei e logo corre para

contá-lo. Hamlet então, corre atrás do fantasma na esperança de ver seu velho pai uma última vez e

acaba conversando com ele. Seu pai acaba revelando a causa de sua morte para seu filho; Seu próprio

irmão havia o envenenado junto de sua esposa para assumir o trono. Ao descobrir sobre a grande

tragédia, Hamlet começa a se sentir completamente perdido e preso a uma decisão que envolvia vida

ou morte.


O jovem príncipe então resolve revelar o grande segredo a todo o reino, porém implicitamente (em

uma peça de teatro), pois sentia essa dívida ao pai. Porém ao fazer isso, ele estava ciente de suas

consequências. O jovem Hamlet teve de explicar as fontes de sua descoberta à sua mãe, que logo

tirou-o como louco, ao descobrir do fantasma de seu falecido marido. O príncipe então, que já estava

para ir, foi mandado para a Inglaterra, e logo Hamlet ficou conhecido como o príncipe louco da

Dinamarca.


Porém o jovem logo retorna à Dinamarca depois de seu navio ser atacado por piratas e foram

subornados para trazê-lo de volta ao seu reino. Ao chegar, Hamlet descobriu o suicídio de sua amada,

Ofélia, pouco tempo depois de Hamlet acidentalmente assassinar seu pai, Polônio, conselheiro do rei.

Ao descobrir a tragédia, Hamlet revela sua volta à Dinamarca.


Ao revelar o crime, seu tio, o rei, está determinado a acabar com Hamlet, em outras palavras,

assassiná-lo. Porém como sua reputação já estava em jogo, ele precisava de ajuda.

Em paralelo, houve a volta de Laerte de sua viagem e quando ele voltou foi apenas para encontrar

desgraças. Laerte se depara com a morte repentina de seu pai e a depressão de sua irmã. Então,

quando descobre a causa da morte de seu pai, ele é convencido a se vingar de seu ex melhor amigo

pelo rei Cláudio. E matá-lo.


O rei então decide preparar uma batalha de esgrima de Laerte contra Hamlet, para que pudesse

matá-lo. E se a espada não o perfurasse, ele envenenaria o vinho da vitória de Hamlet. Ele estava

convencido de que morreria de qualquer maneira.


E assim foi, Hamlet lutou contra Laerte. Logo ele consegue ferir Hamlet com a espada venenosa e

Hamlet toma a espada de sua mão e atinge Laerte em seguida. E logo foi beber o vinho da vitória,

porém sua mãe havia percebido a trama para assassinar seu querido filho, e o tomou em seu lugar, se

sacrificando. Ao ver a tragédia que havia ocorrido, Hamlet faz rei Cláudio beber do vinho venenoso

para acabar de uma vez por todas com a dinastia amaldiçoada.


2. Hamlet: Hamlet é o personagem principal da peça e é caracterizado pela sua diferença

comparado aos outros personagens e as outras pessoas de sua época. Ele começa a peça em

luto pela morte de seu pai, e ao descobrir a sua causa, ele se encontra em uma verdadeira crise

existencial. Muitos dirão que a primeira conhecida pela história. Ele passa grande parte da

peça pensando em suas possibilidades e suas consequências e cogita até a sua morte nesse

processo. Hamlet acaba se tornando um jovem muito perdido, o que não era bem visto em

uma época em que se achava que todos tinham seus devidos papéis impostos por forças

maiores. Ele sutilmente fugia de seu papel ao pensar individualmente e fazer escolhas

baseadas apenas em sua própria percepção de certo ou errado. Portanto, acaba sendo tirado

como louco pelo povo à sua volta. E ao decorrer da peça, nós próprios espectadores chegamos

a duvidar de sua sanidade, que permanece uma incógnita até o final.


Ofélia: Ofélia é uma jovem que como a maioria das mulheres de sua época, vive esperando o

dia de seu casamento. Não porque seja muito romântica, mas porque o único jeito de ter uma

vida bem vista dentro da sociedade inserida, é com um homem ao seu lado, que é também sua

única fonte de dinheiro. E para a surpresa de Ofélia, a pessoa que estaria mais próxima de se

casar é alguém por quem está realmente apaixonada (Hamlet). O que era muito improvável

naquela época. Portanto, ela faz de tudo para não perdê-lo. É quando ela começa a se

submeter a Hamlet com medo de perdê-lo e se culpa por ele não demonstrar o mesmo amor

por ela. Porém Hamlet não é o único homem em sua vida. Ofélia também tem seu pai,

Polônio, que é o conselheiro do rei e seu irmão, Laerte, que é um grande amigo de Hamlet.

A um certo ponto da peça, como expliquei, seu pai morre e Ofélia fica sem saber como. Logo

depois Hamlet parte para a Inglaterra e Ofélia se vê completamente sozinha uma vez que seu

irmão também está viajando. Todos os homens de sua confiança a abandonam e ela se vê

desamparada. Se sente completamente sem rumo e é quando ela começa a ver o suicídio como

sua única saída de uma vida totalmente infeliz. Então, decidida, à beira da completa loucura,

Ofélia se deixa levar pela correnteza de um rio e é encontrada morta.


Horácio: Horácio, apesar de ser o motivo de Hamlet conversar com seu pai, e dar início a

toda trama da peça, é um personagem que não está muito presente na peça como alguém que

está agindo. Acaba sendo contraditório, porque na verdade ele está sempre presente, ao lado

de Hamlet em suas decisões e sempre o aconselhando e apoiando. Porém ele não faz parte da

jornada pessoal de Hamlet, que acaba sendo a maior jornada da peça e não altera nada em

suas decisões.


Rei Cláudio: O rei Cláudio, também tio de Hamlet, é um homem que desde o começo da

peça, quando ouvimos a revelação do fantasma de seu falecido irmão, ex rei, é caracterizado

como muito invejoso, ambicioso e vingativo. Ele é capaz de envenenar seu próprio irmão para

sentir o poder de ser o rei e roubar sua esposa para ser dele. Mais para frente percebemos que

ele mataria qualquer um que tentasse entrar em seu caminho, inclusive seu próprio sobrinho.

Seu egoísmo é de tal tamanho que é capaz de deixar a rainha sem seu marido e seu filho. A

isolando de tudo e todos a não ser ele.


Rainha Gertrudes: A rainha, também mãe de Hamlet, é alguém que no começo da peça era

vista principalmente como uma vilã e uma má pessoa, por ter supostamente ajudado seu

cunhado a assassinar seu marido e se casado com ele. O que é um grande motivo. Porém ao

decorrer da peça, percebemos que apesar dela ser acusada de algo assim, ela é uma mulher

que ama seu filho e não deixaria que nada de mal lhe acontecesse. Inclusive, em minha

percepção, ela foi uma das maiores razões de minha dúvida contra a sanidade de Hamlet, ao

aparentar genuinamente preocupada com seu filho estar louco e pensar algo tão ruim sobre

sua mãe. O jeito que ela reage a tal acusação e o jeito que percebo que ela se preocupa com

Hamlet me faz achar que talvez a mãe não tenha feito nada contra seu pai, ou que tivesse sido

obrigada por seu cunhado a ajudá-lo. Porém isso é apenas uma hipótese. O que fica realmente

claro, é o tanto que Gertrudes ama seu filho ao se sacrificar por ele no final da peça, quando

toma o vinho venenoso em seu lugar. Isso pode ser interpretado como o mínimo a ser feito por

seu filho, porém considerando as acusações que ela matou seu próprio marido, o

desenvolvimento da rainha cria essa dúvida e acaba se tornando uma incógnita sobre o quão

culpada e sem coração ela realmente é.


Laerte: Laerte é um jovem doce no começo da peça, ele ama sua irmã e pai e está prestes a

viajar. Ele passa grande parte da peça viajando, porém quando retorna, é apenas para receber

notícias horríveis que acabam virando sua vida de cabeça para baixo. A morte de seu pai e a

depressão e loucura de sua irmã que já não reconhecia. Laerte fica ainda mais frustrado

quando descobre que Hamlet havia assassinado seu pai. E além disso, quebrado o coração de

sua amada irmã. Um homem que até agora havia considerado como seu melhor amigo de

infância, havia sido capaz de acabar com sua família em um piscar de olhos e deixá-lo

sozinho. Laerte então, enquanto se vê sem rumo e desamparado (assim como sua irmã),

resolve afogar suas mágoas em vingança. Sugerida pelo rei, que claramente tinha segundas

intenções. Então Laerte é convencido a matar Hamlet em um duelo de esgrima. Porém, pelo

seu azar, Hamlet acaba matando-o antes. E morre com ódio, desgosto e, aparentemente,

arrependimento no coração.




3. A peça Hamlet é uma peça atemporal. Desde o momento em que surgiu ela vem sendo contemporânea. Isso é, primeiro porque essa foi a primeira peça a falar abertamente sobre sentimentos profundos e pessoais. O primeiro solilóquio da história. O primeiro contato do povo com a liberdade de expressar seus sentimentos.

Portanto, isso sempre será importante. Para a história e para o povo no dia a dia. Pois o que Shakespeare descreve no solilóquio de Hamlet é e sempre será atual. Sentimentos são sentimentos,não importa a época, O que diferencia é como os expressamos. Mas uma vez que entendemos o solilóquio, é impossível não se identificar de alguma forma.

4. Na minha opinião, o solilóquio “Ser ou não ser” é sobre uma profunda angústia. De se sentir preso a fazer uma certa escolha e ser condenado às suas consequências. De não saber. De pensar até que ponto está disposto a se arriscar e não saber o que fazer com isso. De ser o herói mesmo sem ter certeza e ser julgado por muitos ou de ser um homem simples, que não causa discórdia, porém viver em culpa e sofrimento eterno. É sobre pensar nas consequências de atos que podem nem serexecutados. Hamlet se encontra nesse duelo entre a vida e a morte enquanto tenta carregar uma sutil ironia ao tentar detalhar esse angustiante sentimento de não saber.

5. Sim, eu poderia me identificar com Hamlet. Como eu disse, eu acho que todos podem. Porque o que ele sente na verdade, é algo que podemos sentir cotidianamente. São sentimentos profundos,mas nem tanto se você analisá-los comparando a você. Como já discutimos em psicologia, nossas vidas são baseadas em “ser ou não ser” é como se estivéssemos condenados a viver decidindo se seremos ou não seremos.

6. Eu acho que posso me identificar com Ofélia em algum sentido. Porque, como eu disse, ela é uma garota que sente que precisa de validação masculina para se encaixar na sociedade e viver uma vida menos infeliz. Eu acho que essa necessidade das mulheres de buscar validação masculina ainda não acabou. Infelizmente muitas vezes não é consciente e mesmo que seja não é algo fácil de se perder. Porque, mesmo que em uma diferente intensidade, os homens ainda são os que ditam as regras em nossa sociedade e definem o que é ou não aceitável. Eu acho que toda mulher já sofreu em buscar validação masculina a algum ponto da vida, exatamente por esse medo de Ofélia de não ser aceita e acabar sozinha e rejeitada na vida.

 

7. “Bela Ofélia, hoje minha vida mudou. Eu mudei. Hoje passei a ver a vida de uma maneira completamente diferente. A partir de hoje vou assumir minhas responsabilidades mais profundas. Que cabem a mim, e apenas a mim cumprí-las. Hoje descobri uma coisa que nenhum outro homem sabe. E sua revelação pode quebrar o reino. Porém sinto que é necessária.

A verdade é que percebi que preciso de você ao meu lado. Que não importa as consequências de minha grande revelação, você estará comigo. E sinto muito pelo jeito que ando lhe tratando, minha amada. Saiba que isso acabou. O motivo de minha angústia está chegando ao seu fim e finalmente poderemos ficar juntos.

Ophelia, peço que não tenha medo do que virá por vir. Nem mesmo eu sei o que pode acontecer com o futuro do reino e de meu reinado. Mas preciso que não se importe com isso por um momento. Peço que foque em nós e esteja ao meu lado enquanto salvo e destruo meu reino ao mesmo tempo. Sei que não é algo fácil de se pedir, mas garanto que farei de tudo para que nada estrague nosso destino. Paciência minha querida. E não se preocupe, logo lhe contarei tudo, mas não por aqui.

Logo chegarei à Dinamarca e poderemos nos encontrar. Mas acima de tudo minha bela Ofélia, eu preciso que saiba, eu te amo.”

 

- Hamlet



sábado, 16 de julho de 2022

Eis-me aqui

Eis‑me aqui viva, mera mortal, filosofando sobre a vida, sobre Deus, sobre a crise mundial. Vem‑me à cabeça minha herança e lembro de mim criança, depois adolescente e assim como todos, carente. Muito antes que depois fui mutante, mulher e amante. Eis‑me aqui perdida no futuro do presente, neste mundinho esquisitão, sobrevivente da bobalização. Meio insatisfeita sou a sujeita do verbo ser star, estrela perdida no índigo do céu, pés no chão, cabeça na lua, coração ao leo. Homens não sabem como dizer adeus, mulheres não sabem quando. Posso resistir a tudo, menos à tentação, e descobri que sou quem eu estava esperando. Eis‑me aqui dia seguinte profissa, espreguiça, lava a cara, escova dente e cabelo, dá uma piscada pro espelho e parte pra rotina de dar bons‑dias. Trabalho como se não precisasse do dinheiro, danço como se ninguém estivesse me olhando e perdoo meus inimigos, nada os deixa mais putos. É uma pena que estupidez não cause dor. Eis‑me aqui caidaça no meio da naite, birinaite, cachaça, me levo pra casa depois de muito blá‑blá‑blá, chego e ainda como um resto de pizza com guaraná. Dou um suspiro, respiro, me inspiro e piro na maionese de mim mesma, esta lesma lerda que não sabe por que caiu, nem onde escorregou. Eis‑me aqui confusa, uma estúpida com raros momentos de lucidez, minha consciência limpa é sinal de memória fraca, um boato que entra pelo ouvido e sai por muitas bocas, depois eu é que sou louca. Tusso na frente de um fumante para ele se sentir culpado, depois queimo meu baseado na calada da noite, lá fora o frio é um açoite, então fecho os olhos, não se preocupe comigo, eu apenas estou morrendo. Ei‑me aqui odiando o amor, me abrace por favor, chego à conclusão de que talvez esteja errada, na esperança nada permanece, só a mudança. Estranhos são amigos esperando eu os encontrar, hay mucho que hacer, calo a boca e sorrio, seria engraçado se não tivesse acontecido comigo. Eis‑me aqui na mesmice, nunca vou perdoar as palavras que não disse, não tenho preconceito, neste mundo odeio tudo igualmente e quando não consigo convencer eu confundo, melhor te amar, se tenho medo da solidão melhor não me casar. Eis‑me aqui bem‑amada, Houston, we have a problem, minha namorada é homem, sou o oposto da puta porque estou pouco me fodendo, não estou podendo tanto assim, ai de mim que não sei se acendo uma vela ou se xingo a escuridão, ando tão sem tempo de tanto assistir televisão. Eis‑me aqui falada, mal‑bem‑amada, o vestido mais bonito uso para ser despido, a vida é tão tranquila que devia emitir atestado de óbito, é óbvio que uma das coisas que me dão mais prazer é fazer o que não devo, vou comer e aproveitar até a última mastigada. Eis‑me aqui me despedindo de mim depois de vomitar a alma, felicidade é a minha direção não meu destino, me peça para ter calma, antes de rezar vou me perdoar, antes de desistir vou tentar, antes de falar vou escutar. Eis‑me aqui renascendo, sendo mais eu do que jamais fui, de que me adianta falar bem se estou errada no que digo, não me ofereça sua sabedoria, me dê apenas um copo d’água, uma fatia de pão e um pouco de circo. Só não posso viver com quem não consegue conviver comigo, nessas eu tive foi sorte. E se você não salvou minha vida, pelo menos não arruíne minha morte.
 
Rita Lee
 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Viajar?

Para viajar basta existir.

Vou de dia para dia, como de estação

para estação, no comboio do meu corpo,

ou do meu destino,

debruçado sobre as ruas e as praças,

sobre os gestos e os rostos,

sempre iguais e sempre diferentes,

como, afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo.

Que mais faço eu se viajo?

Só a fraqueza extrema da imaginação

justifica que se tenha que deslocar para sentir.

"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl,

te levará até ao fim do mundo".

Mas o fim do mundo,

desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta,

é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.

Na realidade, o fim do mundo,

como o principio, é o nosso conceito do mundo.

É em nós que as paisagens tem paisagem.

Por isso, se as imagino, as crio;

se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras.

Para que viajar? Em Madrid, em Berlim,

na Pérsia, na China, nos Pólos ambos,

onde estaria eu senão em mim mesmo,

e no tipo e gênero das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela.

As viagens são os viajantes.

O que vemos, não é o que vemos,

senão o que somos.


Fernando Pessoa