sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Reflexões advindas da escola Waldorf

"Atualmente Micael nos convida uma reflexão sobre o tempo presente suas demandas exigências e nossa possibilidade de fazer frente a elas. Sygmunt Balman, sociólogo polonês e um dos pensadores mais lúcidos na identificação das características de nossa época reconhece que vivemos um momento de flexibilização das estruturas sociais e de uma consequente liberdade nunca vista antes na história da humanidade. Com a liberdade de escolher, consumir, mudar de emprego, de conjugue, de profissão, de marca de celular, e etc... surgiu também uma incrível insegurança que aparece tanto no âmbito social quanto no individual.Nada mais é certo e não podemos prever em uma sociedade onde os valores mudam tão rapidamente a consequência de nossas escolhas. Ao invés do sentimento de satisfação pela possibilidade de optar, sentimos medo e angústia diante do incerto e do inesperado.As respostas que Balman observa para esse fenômeno não são tão variadas. Uma tentativa de responder a essa angústia existencial é com o consumo excessivo de objetos desnecessários, por um lado e, por outro, o fortalecimento das religiões fundamentalistas e o ressurgimento do fascismo. De fato podemos constatar um ressurgimento do fundamentalismo em todas suas formas políticas, ou religiosas.Os avanços tecnológicas e um certo “discurso científico” nos oferecem uma sensação de segurança fictícia. Vivemos com um conforto físico nunca antes imaginado por nossos antepassados. Temos acesso a informações em questões de segundos, podemos prever o tempo, viajar lugares distantes, a medicina nos promete um prolongamento da existência e o tratamento ou a erradicação das mais diferentes doenças. Ao mesmo tempo em que, de maneira insidiosa, o medo e a insegurança vivem em nosso interior, do ponto de vista externo somos iludidos por uma aparente possibilidade de controlar todas as variáveis, de poder escolher e decidir. É interessante, nesta época de Micael, refletir sobre a origem da crença religiosa. Em um texto muito interessante publicado na Folha de São Paulo no dia 29/2/2016,  Luiz Felipe Ponde (autor com quem frequentemente não concordo) discorre sobre a importância do sentimento de dependência da vida humana em relação ao infinito, do reconhecimento de que em relação aos aspectos fundamentais da vida humana, estamos impotentes. A necessidade de amor, o desejo de manutenção da vida nossa e de nossos entes queridos, a precariedade de nossa saúde, o medo da solidão são aspectos existenciais da vida humana imunes a nossa ilusão onipotente. Não podemos -embora tentemos muito - garantir o amor de outro ser humano, o prolongamento da vida de um doente ou de nossa própria existência. Fazemos um pouco, o que podemos e, de resto temos que cultivar a confiança de que se a má sorte ou um destino adverso nos abater, seremos capazes de dar à este acontecimento um sentido de integrar essa experiência dolorosa em nossa vida. É característica de nosso tempo a perda, cada vez maior, da consciência de nossa impotência diante do desconhecido, inesperado. Precisamos porém adquirir confiança de que os eventos e tarefas que a vida nos traz podem e devem ganhar sentido, se trabalharmos para isso. Não se trata da crença de que tudo dará certo no final, ou de que, a existência deve transcorrer sem nos impor desafios excessivos, mas de confiar que seremos capazes de transformar o que de difícil a vida possa nos trazer em algo significativo para nós e para a comunidade. A confiança parece estar profundamente ligada a verdadeira religiosidade." 
Florência Guglielmo

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