Estes “códigos” estão situados no mais profundo de nossas
mentes em forma de crenças e de todo tipo de inibições que nos paralisam.
Um contrato é um acordo entre duas partes que se comprometem
a dar algo e a receber algo em troca. Mas nem todos os contratos estão no
papel, nem sequer são verbalizados, nem tão pouco todos estão no plano da consciência.
Ainda mais, como no caso do nome, há contratos que aceitamos em desigualdade de
condições porque se “selam” na mais tenra infância: a criança intui que o descumprimento
implica em não ser querido, o que significa a morte. Nosso cérebro mais
primitivo nos dita a ordem de obedecer quando a ameaça é ser expulso de um clã
familiar.
Estes contratos podem afetar nossos quatro egos:
Exemplos de contratos intelectuais:
Muitas crenças que temos são contratos que mantemos com nossa árvore genealógica, ideias que nos foram transmitindo desde nossos bisavós e que não podemos questionar. (Devemos nos desfazer que qualquer crença que não seja bela e útil)
a) “Será advogado, como os homens de bem dessa família”
(Em árvores
onde o artista é considerado como um morto de fome, que na realidade não sabe
fazer nada)
b) “Nessa
casa se fala português”
(Não me
venha querer estudar línguas... você só precisa falar a língua materna)
c) “Você é
tonto como sua mãe”
(Uma
profecia que atua como uma maldição que acaba se cumprindo...)
d) “Na vida
devemos deixar as coisas iguais como nós as encontramos”
(Sinal
evidente de que a árvore está estagnada...)
e) “Um filho
nunca deve superar seu pai”
(Uma loucura
absoluta que se conecta com a neurose de fracasso)
Os contratos
intelectuais são como as “ideias irracionais” que descreve Albert Ellis, raízes
de nossas emoções perturbadas e comportamentos desajustados. A psicogenealogia
conecta com sua famosa e em muitos casos efetiva RET (Terapia Racional
Emotiva), no sentido de que a família configura um esquema de crenças tóxicas
que nós adotamos por lealdade a ela e que se movem em quatro eixos
fundamentais:
*Se você não
tem o que necessita, morre (“Se meu namorado me deixa, morro”)
A herança
tóxica é confundir a necessidade com o desejo. Se não tenho alimento, morro, mas
se desejo um namorado e não tenho, sigo vivendo...
*Isto é horrível (“É horrível que tenha que cancelar minhas férias”)
Se julga em
excesso. Não há nada categoricamente mal ou bom. Há situações que nos causam
mais ou menos dor. Se ordenarmos as situações dolorosas de 0 a 10 e no 10
colocarmos a morte de um ser querido, como valorizaremos cancelar as férias?
*Não suporto
(“Não suporto a solidão”)
As situações
que matam, são insuportáveis. Acreditar que algo é o limite entre a vida e a
morte nos faz sentirmos agonizantes cada vez que isso acontece. Isso nos leva a
preferir um desastre de relação amorosa, a solidão está proibida pela árvore,
porque significa aproximar-se da morte.
*Se acontece
algo ruim sempre há um culpado e ele tem que ser condenado
A família nos
ensina a julgar e buscar culpados para descarregar a responsabilidade do que
aconteceu, ao invés de responsabilizarmos nós mesmos. Os acontecimentos são uma
confluência de fatores, nada tem uma única causa. Se nos sentimos culpados de
algo, a melhor medicina é uma fórmula com três elementos: aceitação, reparação
e aprendizado do que aconteceu para evitar repetir o mesmo erro no futuro.
Exemplos de contratos emocionais:
a) Não
cresça
(Se você
crescer irá abandonar seus pais. Essa ordem o manterá com uma idade emocional
de 10 anos para o resto da vida)
b) Aqui
somos “palmeirenses”
(Desde o
primeiro mês de vida o bebe é sócio do clube. Quando cresce não tem
alternativa, se não gosta de futebol ou não é palmeirense, será considerado um traidor
ou um doente)
c) “Não seja
tonto e não tenha namorada”
(Fique com a mamãe... ela não vai te desapontar)
d) “um casal
é para toda a vida”
(Ninguém se
divorciará jamais, em nossa família todos são muito católicos)
Os contratos
emocionais nos atam com força ao passado e fomentam as relações baseadas na dependência
emocional. Dissolver esses contratos é abrir finalmente a porta da liberdade de
amar com um nível de consciência superior.
Exemplos de contratos libidinais
Aqui estão
todas as inibições criativas e sexuais
a)” O
teatro, a pintura e a música são uma perda de tempo”
(É como
dizer que não se deve dedicar a coisas que não são de proveito...)
b)”Esta
relação não me convém”
(Poderíamos
nos perguntar: em realidade, a quem não convém?)
c) “Você se
casará aos 25 anos e aos 26 terá sua única filha”
Este poderia
ser um contrato inconsciente que se repete de geração em geração. Um projeto
que a árvore tem para nós
d) “A mulher
que expressa desejo sexual é uma fulana”
(Se o sexo
da mulher é só um instrumento de procriação,
se a proíbem de gozar com sua energia libidinal e finalmente da criação
e da vida)
A proibição da
homossexualidade e as práticas sexuais não existentes no repertório da árvore,
também são contratos que no descumprimento nos bloqueiam a libido ou nos fazem
sentir culpados e merecedores de castigos se “sairmos do armário”.
Exemplos de contratos
materiais-corporais-econômicos:
As inibições
econômicas. É necessário que encontremos os elementos que permitem separarmos a
violência, o medo e a culpabilidade.
a) ”Você é idêntico
ao seu avô”
(E com isso
uma das linhagens toma posse do filho)
b) “Não
toque nos botões que quebrará"
(Quando não
te deixam tocar em nada é porque você não tem espaço)
c) “O
dinheiro é pecado”
(Se nos
fazem acreditar que o dinheiro é sujo, nos gerará muita culpa ganhá-lo)
d) “o que
arisca perde”, “Mais vale um pássaro na mão do que cem voando”, “Mais vale um
mal conhecido do que um bem por conhecer...”
(Sair do
território é uma deslealdade imperdoável e temos um medo ancestral de não
voltar a sermos admitidos no clã)
Tudo isso
nos faz acomodar em um relacionamento que já não contribui em nada, um trabalho
insatisfatório, uma casa que não é um lar e também uma cidade, um grupo de
amigos, etc. Instalados em um território para sempre, porque nos ensinaram que
arriscar é perder tudo, em lugar de seguir nossos desejos como sábio caminho de
transformação.
Os contratos
se cumprem por lealdade, mas também pelo temor das consequências. Digamos que
há um medo de ser castigado, que se cumpram essas previsões (maldições): “Se
você se divorcia, falarão mal de você”, “se for um artista, viverá na pobreza”.
Um ato psicomágico para curar esse tipo de medo do descumprimento ao que os
pais ordenaram, consistiria em realizar metaforicamente a previsão, encenando
para eles.
Alejandro
Jodorowsky nos diz em uma de suas dez receitas para ser feliz: “ Não há alivio
maior que começar a ser o que na verdade somos”. Desde a infância nos impõem destinos
a fora. É conveniente recordar que não estamos no mundo para realizar os sonhos
de nossos pais, mas os nossos próprios sonhos.
Via http://planosinfin.com/contratos-familiares-codigos-que-nos-impiden-ser-lo-que-somos-alejandro-jodorowsky/
Tradução: Jennifer Giusti
Via http://planosinfin.com/contratos-familiares-codigos-que-nos-impiden-ser-lo-que-somos-alejandro-jodorowsky/
Tradução: Jennifer Giusti
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