segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Como Acolher O Corpo do Pós Parto?

Como assumir o corpo do pós gravidez?
Nunca vou esquecer a primeira vez que vi minhas estrias sem o barrirão da primeira gravidez. Como engordei 30 kilos, eu não conseguia ver a parte de baixo da barriga então só pude ver as estrias quando o bebe saiu… Meu Deus!!!!! Que sensação mais louca!!!!!!!! Um misto de culpa, arrependimento, fracasso pessoal!!!
No segundo filho engordei menos e eu já sabia o que viria por ali… Mas a diferença do metabolismo e da elasticidade da pele ainda me chocaram. Ok… Não vou jogar tudo na conta do metabolismo. Ainda não senti a menor vontade de emagrecer ou fazer por onde isso aconteça, apesar da amamentação estar rolando em livre demanda até hoje. Alguns podem encarar como preguiça, eu acho que é auto-respeito, exaustão e talvez um pouco de rebeldia.
Como acolher esse corpo tão diferente?
Apesar de ter engordado bem mais do considerado “normal” (por quem? / pra quem?) As formas redondas da gravidez estão justificadas ali naquele ser dentro de você. Até o visual mais inchado era charmoso. Meu corpo grande e redondo combinava com aquela barriga, com o rosto mais cheio, as pernas fartas. As fotos ficavam lindas e completas!!!
Mas quando sai o bebê, fica o vazio. Não só o emocional do pós parto, mas também o vazio do corpo. É a hora de encararmos aquele corpo novamente como sendo só nosso. E como ele tá diferente… Mais flácido, mais caído, mais marcado… ou só diferente!!!
Também é o momento das quedas hormonais. Aqui sempre foram avalanches emocionais. É um abismo que mora dentro… um misto de contradição… amor, dedicação… amor… mas também dúvidas, amor, choques, solidão, amor, ausência… e saudades de mim mesma em primeiro lugar (mesmo que inconsciente ou escondido)!!!!!
Como amar tanto um ser que veio de mim e me amar tão pouco? Como amar tanto essa nova pessoa que saiu de minhas células, do meu material genético e amar tão pouco meu próprio novo corpo?
E a exaustão dos primeiros meses ? Não há tempo de cuidar de si. Não numa maternidade ativa, livre demanda, apegada. É o momento que nos permitimos dormir sem escovar os dentes, sem tomar banho. Comemos correndo antes do próximo choro. Entre uma risada e outra pras visitas e o cuidado intenso daquele ser, onde fica a mulher???
(Quem??? A Mulher. Que Mulher??? Quem??? Eu???)
Admiro quem retoma o corpo rápido, quem consegue fazer a dieta ou se exercitar. Admiro, mas não entendo. Aqui cada tempo livre só queria dormir, e comer pra afogar as angústias.
Olhar esse novo corpo que surgiu, acolher como sendo nosso novo corpo ou o corpo desse nosso novo momento é doloroso, é um ato diário de praticar o auto-amor, o desapego.
Dizia que se levamos nove meses alargando, esticando, engordando e expandindo, nada mais justo do que pelo menos nove meses pra esse corpo pensar em voltar pra sua forma anterior. Os nove meses estão chegando por aí e nem sinal de ser o que fui. E nem a vontade de voltar.
Não me venham dizer que “é preciso se cuidar pro marido” ou qualquer outro conselho (no fundo machista) de se cuidar pro outro. Falo aqui de algo mais profundo. De um encontro consigo mesma. Falo de corresponder às suas novas e reais vontades e ainda suprir os desejos de um bebê que chora.
Sei da importância de se exercitar pra além da estética, e acolho com carinho os conselhos e comentários de quem deseja que me cuide. Mas quero dizer que se cuidar ou se exercitar é diferente de emagrecer. Que emagrecer é diferente de entrar nos neuróticos padrões da ditadura da beleza magra. E que essa pressão de voltar os kilos é no mínimo cruel.
Acredito que cada mulher tem seu tempo, suas demandas internas.
Na minha profissão então (ainda sou atriz?) em que as mulheres já saem mais magras da própria maternidade, sempre me senti um alien.
Até que decidi me descolar de comparações a padrões externos, tão distantes. Hoje procuro olhar pra mim e pra minha real relação com meu corpo. De forma sincera, crua, dolorida mas verdadeira. Minhas expectativas foram redimensionadas. Tento me acolher com mais carinho.
As vezes algumas ajudinhas externas, seja mudando o cabelo ou fazendo a unha podem ser um pequeno estímulo…  Até o momento de (finalmente) se depilar é importante.
Haverá de chegar o momento que eu sinta o ímpeto de malhar, de perder peso, de voltar a uma rotina intensa de exercícios (espero). E quando esse momento chegar, espero acolher com mesmo respeito que estou acolhendo essa fase de introspecção e rebeldia.
Mas tudo ao meu tempo, que é individual, subjetivo, único e necessário. Meu corpo é imperfeito, não é magro, mas é o MEU CORPO, e cabe a mim lidar com ele da melhor maneira. Minhas novas formas e marcas também contam minha história, também representam minhas escolhas. Também legitimam esse amor infinito que (re)nasceu!!!!!
Por Caroline Figueiredo - Blog Canto da Mulher que Canta

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