Sejam bem vindos, este blog tem o intuito de abordar assuntos relacionados ao universo da Psicologia Fenomenológica Existencial, aqui você encontrará informações sobre cursos, palestras, livros, textos, artigos, vídeos e tudo o que possa acrescentar ao nosso saber. Grata, Nina - Jennifer Giusti
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
domingo, 30 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Como Acolher O Corpo do Pós Parto?
Como assumir o corpo do pós gravidez?
Nunca vou esquecer a primeira vez que vi minhas estrias sem o barrirão da primeira gravidez. Como engordei 30 kilos, eu não conseguia ver a parte de baixo da barriga então só pude ver as estrias quando o bebe saiu… Meu Deus!!!!! Que sensação mais louca!!!!!!!! Um misto de culpa, arrependimento, fracasso pessoal!!!
No segundo filho engordei menos e eu já sabia o que viria por ali… Mas a diferença do metabolismo e da elasticidade da pele ainda me chocaram. Ok… Não vou jogar tudo na conta do metabolismo. Ainda não senti a menor vontade de emagrecer ou fazer por onde isso aconteça, apesar da amamentação estar rolando em livre demanda até hoje. Alguns podem encarar como preguiça, eu acho que é auto-respeito, exaustão e talvez um pouco de rebeldia.
Como acolher esse corpo tão diferente?
Apesar de ter engordado bem mais do considerado “normal” (por quem? / pra quem?) As formas redondas da gravidez estão justificadas ali naquele ser dentro de você. Até o visual mais inchado era charmoso. Meu corpo grande e redondo combinava com aquela barriga, com o rosto mais cheio, as pernas fartas. As fotos ficavam lindas e completas!!!
Mas quando sai o bebê, fica o vazio. Não só o emocional do pós parto, mas também o vazio do corpo. É a hora de encararmos aquele corpo novamente como sendo só nosso. E como ele tá diferente… Mais flácido, mais caído, mais marcado… ou só diferente!!!
Também é o momento das quedas hormonais. Aqui sempre foram avalanches emocionais. É um abismo que mora dentro… um misto de contradição… amor, dedicação… amor… mas também dúvidas, amor, choques, solidão, amor, ausência… e saudades de mim mesma em primeiro lugar (mesmo que inconsciente ou escondido)!!!!!
Como amar tanto um ser que veio de mim e me amar tão pouco? Como amar tanto essa nova pessoa que saiu de minhas células, do meu material genético e amar tão pouco meu próprio novo corpo?
E a exaustão dos primeiros meses ? Não há tempo de cuidar de si. Não numa maternidade ativa, livre demanda, apegada. É o momento que nos permitimos dormir sem escovar os dentes, sem tomar banho. Comemos correndo antes do próximo choro. Entre uma risada e outra pras visitas e o cuidado intenso daquele ser, onde fica a mulher???
(Quem??? A Mulher. Que Mulher??? Quem??? Eu???)
Admiro quem retoma o corpo rápido, quem consegue fazer a dieta ou se exercitar. Admiro, mas não entendo. Aqui cada tempo livre só queria dormir, e comer pra afogar as angústias.
Olhar esse novo corpo que surgiu, acolher como sendo nosso novo corpo ou o corpo desse nosso novo momento é doloroso, é um ato diário de praticar o auto-amor, o desapego.
Dizia que se levamos nove meses alargando, esticando, engordando e expandindo, nada mais justo do que pelo menos nove meses pra esse corpo pensar em voltar pra sua forma anterior. Os nove meses estão chegando por aí e nem sinal de ser o que fui. E nem a vontade de voltar.
Não me venham dizer que “é preciso se cuidar pro marido” ou qualquer outro conselho (no fundo machista) de se cuidar pro outro. Falo aqui de algo mais profundo. De um encontro consigo mesma. Falo de corresponder às suas novas e reais vontades e ainda suprir os desejos de um bebê que chora.
Sei da importância de se exercitar pra além da estética, e acolho com carinho os conselhos e comentários de quem deseja que me cuide. Mas quero dizer que se cuidar ou se exercitar é diferente de emagrecer. Que emagrecer é diferente de entrar nos neuróticos padrões da ditadura da beleza magra. E que essa pressão de voltar os kilos é no mínimo cruel.
Acredito que cada mulher tem seu tempo, suas demandas internas.
Na minha profissão então (ainda sou atriz?) em que as mulheres já saem mais magras da própria maternidade, sempre me senti um alien.
Até que decidi me descolar de comparações a padrões externos, tão distantes. Hoje procuro olhar pra mim e pra minha real relação com meu corpo. De forma sincera, crua, dolorida mas verdadeira. Minhas expectativas foram redimensionadas. Tento me acolher com mais carinho.
As vezes algumas ajudinhas externas, seja mudando o cabelo ou fazendo a unha podem ser um pequeno estímulo… Até o momento de (finalmente) se depilar é importante.
Haverá de chegar o momento que eu sinta o ímpeto de malhar, de perder peso, de voltar a uma rotina intensa de exercícios (espero). E quando esse momento chegar, espero acolher com mesmo respeito que estou acolhendo essa fase de introspecção e rebeldia.
Mas tudo ao meu tempo, que é individual, subjetivo, único e necessário. Meu corpo é imperfeito, não é magro, mas é o MEU CORPO, e cabe a mim lidar com ele da melhor maneira. Minhas novas formas e marcas também contam minha história, também representam minhas escolhas. Também legitimam esse amor infinito que (re)nasceu!!!!!
Por Caroline Figueiredo - Blog Canto da Mulher que Canta
domingo, 21 de setembro de 2014
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Ter consciência...
"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal.
Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio."
Fernando Pessoa
Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio."
Fernando Pessoa
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro
"Com efeito comparável ao da cocaína, droga é receitada a crianças questionadoras e livres. Professora afirma: “podemos abortar projetos de mundo diferentes”
Por Roberto Amado, no DCM
É uma situação comum. A criança dá trabalho, questiona muito, viaja nas suas fantasias, se desliga da realidade. Os pais se incomodam e levam ao médico, um psiquiatra talvez. Ele não hesita: o diagnóstico é déficit de atenção (ou Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) e indica ritalina para a criança.
O medicamento é uma bomba. Da família das anfetaminas, a ritalina, ou metilfenidato, tem o mesmo mecanismo de qualquer estimulante, inclusive a cocaína, aumentando a concentração de dopamina nas sinapses. A criança “sossega”: pára de viajar, de questionar e tem o comportamento zombie like, como a própria medicina define. Ou seja, vira zumbi — um robozinho sem emoções. É um alívio para os pais, claro, e também para os médicos. Por esse motivo a droga tem sido indicada indiscriminadamente nos consultórios da vida. A ponto de o Brasil ser o segundo país que mais consome ritalina no mundo, só perdendo para os EUA.
A situação é tão grave que inspirou a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, a fazer uma declaração bombástica: “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro”, disse ela em entrevista ao Portal Unicamp. “Quem está sendo medicado são as crianças questionadoras, que não se submetem facilmente às regras, e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de mil anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível”, diz ela.
O fato, no entanto, é que o uso da ritalina reflete muito mais um problema cultural e social do que médico. A vida contemporânea, que envolve pais e mães num turbilhão de exigências profissionais, sociais e financeiras, não deixa espaço para a livre manifestação das crianças. Elas viram um problema até que cresçam. É preciso colocá-las na escola logo no primeiro ano de vida, preencher seus horários com “atividades”, diminuir ao máximo o tempo ocioso, e compensar de alguma forma a lacuna provocada pela ausência de espaços sociais e públicos. Já não há mais a rua para a criança conviver e exercer sua “criancice.
E se nada disso funcionar, a solução é enfiar ritalina goela abaixo. “Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la a lidar com essa criança. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada”, diz a médica.
Mas os problemas não param por aí. A ritalina foi retirada do mercado recentemente, num movimento de especulação comum, normalmente atribuído ao interesse por aumentar o preço da medicação. E como é uma droga química que provoca dependência, as consequências foram dramáticas. “As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento”, diz a médica. “Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA)”.
Enquanto isso, a ritalina também entra no mercado dos jovens e das baladas. A medicação inibe o apetite e, portanto, promove emagrecimento. Além disso, oferece o efeito “estou podendo” — ou seja, dá a sensação de raciocínio rápido, capacidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo, muito animação e estímulo sexual — ou, pelo menos, a impressão disso. “Não há ressaca ou qualquer efeito no dia seguinte e nem é preciso beber para ficar loucaça”, diz uma usuária da droga nas suas incursões noturnas às baladas de São Paulo. “Eu tomo logo umas duas e saio causando, beijando todo mundo, dançando o tempo todo, curtindo mesmo”, diz ela.
Mulheres famintas - fome, beleza e obediência feminina
“Uma cultura focada na magreza feminina não revela uma obsessão com a beleza feminina. É uma obsessão sobre a obediência feminina. Fazer dietas é o sedativo político mais potente na história das mulheres; uma população passivamente insana pode ser controlada”. ‒ Naomi Wolf
Fui à casa de uma amiga no fim de semana e a filha dela de oito anos me perguntou se eu podia abrir o Tarot para ela, eu expliquei que não se abre o Tarot paras as crianças e perguntei o que ela queria saber. Ela disse “pergunta se eu vou conseguir emagrecer um dia”. Vou na Secretaria de Direitos Humanos para uma reunião com a secretária e duas coordenadoras de área e durante meia hora o assunto é a dieta Dukan, quando fico sabendo a quantidade de proteína que cada uma delas ingere por dia e quantos quilos perderam nos últimos meses. Estão todas realizadas com a dieta, mas principalmente com a capacidade de auto controle.
Minha vizinha diz, alternadamente, cada vez que vê a presidenta na televisão, “a Dilma está uma vaca de gorda”, ou “ela emagreceu”. Muitas mulheres que conheço se queixam de que os homens não as olham e que elas estão invisíveis. E quase todas, quando se encontram, antes de perguntar como estão, dizem frases do tipo, “nossa, como você emagreceu! Como você está bem”. O olhar das mulheres para o mundo e para si próprias, constantemente, é um olhar de quem está tomando medidas.
A mãe de uma amiga minha, uma senhora de 78 anos, me disse outro dia, “perdi 7 kgs nos últimos seis meses e sem fazer dieta!”. E foi ali, pela primeira vez, que fiquei atenta para o fenômeno, tentando decifrar o que significava aquele sorriso feliz e realizado. O olhar dela era o de alguém que havia sido ungida por uma espécie de bênção divina, e era também o de uma menina bem comportada ou o de uma boa moça que havia feito bem o dever de casa. Foi então que vi o que sempre esteve diante dos meus olhos, mas que só agora pude nomear e entender: o fenômeno de como as mulheres lidam com a comida e com suas medidas e que podemos chamar, simplesmente, de loucura da braba, como se diz na minha terra.
A filha da minha amiga, a menina de oito anos, sempre foi muito fotografada pela mãe quando era pequena. A mãe é uma excelente fotógrafa e as fotos mostravam a cumplicidade das duas nos rituais das poses, das caras e bocas, ao longo da vida. Ela se sentia segura sob as lentes maternas. Neste verão ela e mãe foram de férias para Salvador e quando pedi para ver as fotos, vi uma menina tímida e retraída, e a cada foto que ela me mostrava dizia, “nesta eu não estou muito bem, estou muito gorda”. Aos oito anos ela já foi acometida pela loucura da braba e está doente. A espontaneidade que ela tinha fazendo poses, caras e bocas ao ser fotografada pela mãe foi completamente comprometida na medida em que ela foi crescendo e compreendendo o triste legado que ensinamos às nossas meninas e que afirma que os nossos corpos não valem nada.
Para as terapeutas americanas Rosalyn Meadow e Lillie Weiss, que escreveram Las chicas buenas no toman postre, a associação da comida com a sexualidade é fundamental na vida das mulheres, não apenas na vida daquelas que são mães, mas na de todas as mulheres.
Para elas os distúrbios alimentares são sintomas de um fenômeno simples: a comida é para as mulheres hoje, o que foi a sexualidade em tempos passados. Ou, por outra, o dilema da comida para as mulheres hoje, é o que foi o dilema da sexualidade para as mulheres em tempos passados. Se antes o controle sobre o corpo feminino exercido pelas normas e regras da sociedade patriarcal dava-se em relação à sexualidade da mulher, agora o mesmo controle sobre o corpo feminino se dá através da comida. Para elas, a antiga equação “dar ou não dar para o namorado”, equivale à equação “comer ou não comer” dos dias atuais. As mesmas fobias relativas às dificuldades de gozar, às dores da penetração, à frigidez, aos medos de engravidar, à vergonha de deixar-se tocar por um parceiro ou de ficarem nuas na frente dos outros são as mesmas fobias que tomam conta da vida das mulheres de forma desesperadora nos dias de hoje. Só que agora a antiga ansiedade se revela através de um verdadeiro terror das mulheres em relação ao seu peso e suas medidas.
As autoras fazem um quadro comparativo entre as medidas e remédios para os pecados da masturbação de outros tempos e o das restrições atuais para o sobrepeso, listando as medidas contra o auto abuso do sexo (cauterização, clitoridectomia, infibulação, aspiração cirúrgica do líquido sexual, cintos de castidade, duchas quentes e frias, camisa de força, medicação, exercício extremo e dieta) em correspondência direta às medidas contra o auto abuso da comida da atualidade (grampeamento do estômago, cirurgia de by-pass, plástica abdominal, lipoaspiração, aprisionamento das mandíbulas, banhos de vapor e água fria, faixas para suar, medicação, exercício extremo e dieta).
A insatisfação das mulheres com suas medidas e com sua imagem é permanente, e um profundo sentimento de inadequação se estabelece em suas vidas fazendo com que se sintam sempre impossibilitadas de sentir-se bem com seus corpos e imaginando que jamais corresponderão a um ideal de beleza que não tem nada a ver com elas. Um tempo e uma energia sem fim são desperdiçados dedicados às dietas, medidas, roupas, dietética e cosmética.
E estas mulheres que não comem, comem o que? Comem a fome. A fome dos seus desejos mais secretos, das suas necessidades afetivas mais básicas, dos seus sonhos mais recônditos. Uma fome impossível de ser saciada e que cria mais fome. As que comem demais e as quem comem de menos negam a fome das suas emoções. As mulheres estão famintas, longe de seus corpos e suas vontades, exiladas de seus corpos, os únicos capazes de propiciar alegria e prazer. Porque as mulheres que nutrem o mundo de diversas maneiras, afetivas, reais ou simbólicas, com suas comidas e afetos, e sua capacidade para a dança, e riso e a farra com seus homens, seus filhos e suas amigas, estão tristes, não se reconhecem mais nos seus corpos e na espontaneidade de seus movimentos. As mulheres desses tempos têm uma imensa fome de si mesmas. Têm fome de tudo aquilo que elas querem poder ser, sentir e realizar.
E mesmo podendo dominar sofisticadas tecnologias e ocupar cargos de poder nunca imaginados por suas mães ou avós, elas continuam presas às medidas de um espartilho mental que negligencia e desqualifica sua auto imagem criando sentimentos de inadequação que as tornam inseguras e infelizes.
Marcela Lagarde em muitos dos seus textos diz que as mulheres de hoje se comportam como criaturas medievais desejosas unicamente de um amor romântico impossível de ser realizado e sem nenhuma reflexão crítica sobre seu amor próprio. E que isto as debilita e enfraquece, já que ninguém com estes sentimentos desenvolve suas potencialidades.
A pergunta permanece, se desdobra: com ensinamentos deste tipo, o que estamos ensinando às nossas meninas? Quem cuida, afinal, das nossas meninas?
Lélia Almeida
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
O Louco
Foi no jardim de um hospício que encontrei um jovem de
face pálida e formosa, e cheia de espanto...
Sentei-me ao seu lado e perguntei-lhe:
"Por que está aqui ?"
E ele olhou-me, admirado, e disse:
"É uma pergunta indiscreta; contudo, vou responder-lhe.
Meu pai queria fazer de mim uma reprodução de
si próprio; o mesmo queria meu tio.
Minha mãe pretendia fazer de mim a imagem
de seu ilustre pai. Minha irmã considerava seu marido
marinheiro como o exemplo perfeito que eu deveria seguir.
Meu irmão achava que eu tinha que ser como ele,
um excelente atleta.E meus professores também...
O de filosofia, o professor de música, o de lógica, cada um queria que
eu não fosse senão o reflexo de sua
própria face. Desta forma, vim pra este lugar.
"Pelo menos posso ser eu mesmo."
Depois, subitamente, virou-se para mim e perguntou:
- "Mas, diga-me, o senhor também foi trazido a este
lugar pela educação e o bom conselho ?"
E eu respondi:
"Não, eu sou um visitante."
E ele disse:
- "Ah, o senhor é um daqueles que vivem no hospício
do outro lado da muralha.
Khalil Gibran
face pálida e formosa, e cheia de espanto...
Sentei-me ao seu lado e perguntei-lhe:
"Por que está aqui ?"
E ele olhou-me, admirado, e disse:
"É uma pergunta indiscreta; contudo, vou responder-lhe.
Meu pai queria fazer de mim uma reprodução de
si próprio; o mesmo queria meu tio.
Minha mãe pretendia fazer de mim a imagem
de seu ilustre pai. Minha irmã considerava seu marido
marinheiro como o exemplo perfeito que eu deveria seguir.
Meu irmão achava que eu tinha que ser como ele,
um excelente atleta.E meus professores também...
O de filosofia, o professor de música, o de lógica, cada um queria que
eu não fosse senão o reflexo de sua
própria face. Desta forma, vim pra este lugar.
"Pelo menos posso ser eu mesmo."
Depois, subitamente, virou-se para mim e perguntou:
- "Mas, diga-me, o senhor também foi trazido a este
lugar pela educação e o bom conselho ?"
E eu respondi:
"Não, eu sou um visitante."
E ele disse:
- "Ah, o senhor é um daqueles que vivem no hospício
do outro lado da muralha.
Khalil Gibran
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Mudança
"Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois da coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
Olhe-se no espelho…” Lia Luft
Mas então chega o depois da coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
Olhe-se no espelho…” Lia Luft
sábado, 5 de abril de 2014
quinta-feira, 27 de março de 2014
Indicação de livros
Para quem tem interesse em se aprofundar no existencialismo, na
daseinsanalyse e na fenomenologia, por Vanessa Maichin
CRITELLI, D. M. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC Brasiliense, 1996.
DUBOIS, C. Heidegger: Introdução a uma leitura.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
SAPIENZA, B. T. Conversa sobre terapia. São Paulo: Educ/Paulus, 2004.
MOREIRA D. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Ed. Pioneira Thomson, 2001
BARBOSA, M. “A noção de ser-no-mundo em Heidegger e sua aplicação na psicopatologia.” Revista Psicologia: Ciência e Profissão, 18 (3), p. 2-13, 1998. [Scielo - http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/pcp/v18n3/02.pdf]
BILBAO, G. Os anjos de Zabine: um ensaio psicoterapêutico. Campinas: Ed. Alínea, 2007.
CANCELLO, L. O fio das palavras: um estudo de psicoterapia existencial. São Paulo: Summus, 1991
SAPIENZA, B. T. Do Desabrido à Confiança: Daseinsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Clínica Fenô&Grupos
A
formação em coordenação de grupos é um trabalho de caráter vivencial. O
objetivo é a instrumentação de cada participante a partir de recursos
próprios e na produção de uma leitura fenomenológica sobre a dinâmica
criada pelo grupo, bem como no processamento das experiências
emergentes. Para isso, a formação propicia a cada participante a
experiência de ser membro, coordenador e observador de grupo.
Compreendemos que é somente com base na experiência vivenciada que os
fenômenos presentes numa situação grupal podem se dar e serem
tematizados.
Ao longo de cada encontro da formação o processo grupal é vivenciado e, partindo-se dele, a leitura fenomenológica vai se desenvolvendo. Para complementá-la, são apresentadas referências bibliográficas que a fundamentam, assim como são discutidos contrapontos com outras interpretações.
A vivência da situação grupal e a leitura fenomenológica possibilitam a compreensão de fenômenos grupais nos mais variados contextos, do consultório particular à instituição, com grupos psicoterapêuticos e dinâmicas grupais. Por isso, a formação instrumentaliza profissionais que lidam com grupos, sejam eles das áreas psi ou outras.
Fenô&Grupos também disponibiliza a experiência de estágio observando e/ou coordenando grupos psicoterapêuticos em instituição de saúde mental, dependendo da disponibilidade do participante e da instituição.
A formação também inclui o desenvolvimento de projetos em fenomenologia nas áreas clínica, hospitalar, institucional e social.
Fazemos um processo seletivo dos participantes para garantir a qualidade da formação e propiciar um clima que facilite a integração e a troca de experiências profissionais e pessoais - o que chamamos de coesão grupal.
A Clínica Fenô&Grupos, onde são realizados os encontros, está situada muito próxima ao metrô Ana Rosa, sendo, portanto, perto do aeroporto de Congonhas, da Av. Paulista e de vários hotéis. As datas dos encontros em 2014 são: 15/03, 12/04, 17/05, 7/06, 16/08, 20/09, 18/10 e 29/11 (sábados) das 9:00 às 18:00.
Ao longo de cada encontro da formação o processo grupal é vivenciado e, partindo-se dele, a leitura fenomenológica vai se desenvolvendo. Para complementá-la, são apresentadas referências bibliográficas que a fundamentam, assim como são discutidos contrapontos com outras interpretações.
A vivência da situação grupal e a leitura fenomenológica possibilitam a compreensão de fenômenos grupais nos mais variados contextos, do consultório particular à instituição, com grupos psicoterapêuticos e dinâmicas grupais. Por isso, a formação instrumentaliza profissionais que lidam com grupos, sejam eles das áreas psi ou outras.
Fenô&Grupos também disponibiliza a experiência de estágio observando e/ou coordenando grupos psicoterapêuticos em instituição de saúde mental, dependendo da disponibilidade do participante e da instituição.
A formação também inclui o desenvolvimento de projetos em fenomenologia nas áreas clínica, hospitalar, institucional e social.
Fazemos um processo seletivo dos participantes para garantir a qualidade da formação e propiciar um clima que facilite a integração e a troca de experiências profissionais e pessoais - o que chamamos de coesão grupal.
A Clínica Fenô&Grupos, onde são realizados os encontros, está situada muito próxima ao metrô Ana Rosa, sendo, portanto, perto do aeroporto de Congonhas, da Av. Paulista e de vários hotéis. As datas dos encontros em 2014 são: 15/03, 12/04, 17/05, 7/06, 16/08, 20/09, 18/10 e 29/11 (sábados) das 9:00 às 18:00.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Bem x Mal
"Para ações más, a resposta educativa do mal.
Fingimos que estamos ensinando bons valores, bons costumes, como ser um
“respeitável cidadão de bem”, torturando, humilhando, desumanizando. Com
o escudo moral da educação, dormimos
sem culpa, naturalizados, neutralizados, deixando nosso ódio, nosso
ímpeto de vingança no livre-arbítrio da docência sobre a decência. Sob a
égide do santo ofício do bem-querer social, o mal-me-quer tem sido o
ensino escolhido por uma sociedade cheia de dentes babando por justiça,
presa pelo lado de fora, sem chaves, porque cem grades. Em suas mãos,
vodoos. Representações em forma, concentrados químicos, vulcões, alvos,
poros, amontoados genéticos atuando aquilo tudo que o coletivo "de bem"
renega em si e segrega, secretando em segredo, dos mais altos penhascos
do medo, suas salinas salivas de ódio.
Espeta, amassapisa, vodoo bom é vodoo morto!?"
Luanda Francine - Filósofa e Psicanalista
Espeta, amassapisa, vodoo bom é vodoo morto!?"
Luanda Francine - Filósofa e Psicanalista
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Na presença do sentido, uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas
"Vamos esclarecer o nosso
emprego da palavra sentido, visto que ela é sempre discutível,
principalmente quando queremos explicá-la através da linguagem do
conhecimento. Usamos essa palavra aqui em sua acepção mais simples.
Trata-se daquele sentido que, na hora em que falta, todos nós sabemos de
que se trata. É o sentido primário, fundamental, a que nos referimos
quando perguntamos: “qual o sentido de nossas vidas? Qual o sentido de
estarmos aqui?”.
Algumas vezes na vida, passamos por situações nas quais o sentido se perde. Há uma situação específica em que isso ocorre de forma drástica e intensa: o momento em que vivenciamos a morte de um sonho. Essa é uma experiência humana única, pois só os homens sonham. Referimo-nos ao sonho como perspectiva, esperança. Não só o homem é o único animal que sonha como também, uma vez tendo conquistado o direito de sonhar, transformou o sonho em seu valor mais alto.
A imagem do herói , em todas as épocas e culturas, é sempre a imagem daquele que colocou o sonho acima de tudo, até da conservação da vida e da preservação da espécie.
Numa belíssima cena do filme 2001, uma odisséia no espaço, um computador ultrapassa suas funções e começa a enlouquecer. Impulsionado por uma grande aspiração, pergunta ao cosmonauta: “Será que eu posso sonhar?”. Porque em sua perfeição técnica faltava o sonho.
Mas o sonho também morre, e quando isso acontece ficamos provisoriamente privados de sentido. Quando tudo aquilo que esperamos, a que nos dedicamos, em nome do que nos organizamos, morre, nossa vida morre também. Nesse momento, vivemos duas experiências interligadas. Ao mesmo tempo em que percebemos grande lucidez e clareza, esta é absolutamente incompatível com a ação, porque não há motivo para fazer coisa alguma.
A morte do sonho traz uma experiência muito forte de solidão. Ao conversarmos com pessoas que vivem o drama de uma solidão muito intensa, em geral, deparamos com um sonho que morreu. Para tais pessoas, o afeto, a preocupação, a proximidade dos outros aprofundam ainda mais sua solidão. É como se o amor e a preocupação dos outros ao redor fossem absurdos e vazios, porque, sem o sonho, nada se articula, o sentido é negado e não se tem como acolher e muito menos retribuir carinho.
Muitas vezes a pessoa carrega em si um sonho que morreu, e ela não consegue abandonar e enterrar esse sonho, pois isso é assustador. É assustador porque a desilusão com um amor ou um ideal dá a impressão de que jamais ela poderá amar ou ter ideais de novo. Então, ela se agarra ao sonho morto, e este a escraviza na condição de ausência de sentido. É muito difícil nos aproximarmos da pessoa que vive esse momento.
O fim de um sonho é uma das formas de perda do sentido. Essa perda traz não apenas dor. A pessoa pode sentir que perdeu também exatamente o que fazia sua existência ser digna de ser vivida. É como se ela se sentisse ferida em sua dignidade. Desaparece o que tinha importância, e , nessas horas em que um sentido muito importante da vida se desarticula, o perigo é que isso arraste tudo o mais, num movimento que tende a escravizar todas as coisas de qualquer significado que ainda possam ter.
Na ausência de sentido, fica difícil viver. Mas se a pessoa compreender que, embora sonhos se acabem, a possibilidade de sonhar permanece, ela poderá restabelecer um sentido.
Depois de abandonar um sonho morto, é hora de começar a sonhar de novo; é hora de começar a habitar um novo sonho.
Que é habitar um sonho?
Sabemos que somos frágeis; por isso, precisamos de um lugar para morar. Isso vai além da concretude do lugar, queremos habitar “em casa”.
Mas a necessidade de habitar ainda vai mais longe. Dotados de linguagem, percebendo significados, e capazes de sonhar, o precisar “estar-em-casa” tem uma amplitude maior.
Precisamos habitar no sentido das coisas, habitar nossos sonhos, que são os grandes articuladores de sentido.
Quem já passou pela experiência de perder o sentido sabe o que isso quer dizer: chegar em casa e não ter mais casa, só um espaço vazio.
Habitar no sentido é a possibilidade de procurarmos.
Na condição de seres que sonham e vêem seus sonhos morrerem, há uma situação muito angustiante que se manifesta na tentativa desesperada de, ao sentir que um sonho esta acabando, querer preservá-lo de qualquer jeito, acima de toda a experiência. É a tentativa de radicalizar o sonho por não admitirmos que nada o ameace. Assim, o sonho já não é algo cheio de vigor, capaz de se confrontar e de se relacionar com as coisas; tornou-se um sonho moribundo, que não queremos deixar morrer. Para não o deixarmos morrer, começamos a ser cada vez mais agressivos com relação a tudo que o ameace. Já não habitamos mais o sonho, passamos a defendê-lo e nos tornamos escravos daquilo que esperamos a qualquer custo. Nisso, perdemos a liberdade.
A pessoa nessa situação não se dá conta de que, assim como é preciso habitar no sentido, como sonhadores, por outro lado, estamos destinados ao desenvolvimento, não podemos ficar parados lá atrás.
Nós temos de nos desenvolver. O desenvolvimento não é uma opção nossa, assim como não o são o sentido e o habitar. Precisamos nos des-envolver, des-cobrir nós mesmos e o mundo. Isso faz parte do nosso destino, entendido não como algo previamente definido e demarcado, como uma obrigatoriedade ou regido por uma causalidade férrea. Empregamos a palavra destino da mesma forma como a encontramos na estação rodoviária ou no aeroporto: “Atenção passageiros com destino a...”.
O que define o passageiro é o seu destino. Dessa mesma forma, também somos destinados a nos desenvolver na direção do horizonte para o qual caminhamos.
Somos destinados, mas podemos nos perder: podemos perder nossa morada no sentido, não saber o que fazer com a liberdade, sentir dificuldade para prosseguir em nossa direção. Nesses momentos é preciso cuidado...Talvez isso justifique termos dito, no início, que procura , é pró-cura, é para cuidar.
Estamos chegando a poder dizer que é a procura, via poiesis, pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido.
Somos todos lançados nesse processo que é a existência, pois recebemos a vida à revelia de qualquer decisão própria. Podemos decidir sobre possibilidades de rumos diferentes que queiramos seguir, mas há uma coisa que vale para todos nós: enquanto existimos, estamos destinados ao próprio desenvolvimento, habitando o sentido ao qual nos dedicamos na efetivação da nossa liberdade, radicada na verdade que liberta e que nós procuramos. Às vezes, perdemos esse sentido e então temos, pela via da poiesis, uma forma de reencontrá-lo."
João Augusto Pompeia e Bilê Tatit Sapienza
Algumas vezes na vida, passamos por situações nas quais o sentido se perde. Há uma situação específica em que isso ocorre de forma drástica e intensa: o momento em que vivenciamos a morte de um sonho. Essa é uma experiência humana única, pois só os homens sonham. Referimo-nos ao sonho como perspectiva, esperança. Não só o homem é o único animal que sonha como também, uma vez tendo conquistado o direito de sonhar, transformou o sonho em seu valor mais alto.
A imagem do herói , em todas as épocas e culturas, é sempre a imagem daquele que colocou o sonho acima de tudo, até da conservação da vida e da preservação da espécie.
Numa belíssima cena do filme 2001, uma odisséia no espaço, um computador ultrapassa suas funções e começa a enlouquecer. Impulsionado por uma grande aspiração, pergunta ao cosmonauta: “Será que eu posso sonhar?”. Porque em sua perfeição técnica faltava o sonho.
Mas o sonho também morre, e quando isso acontece ficamos provisoriamente privados de sentido. Quando tudo aquilo que esperamos, a que nos dedicamos, em nome do que nos organizamos, morre, nossa vida morre também. Nesse momento, vivemos duas experiências interligadas. Ao mesmo tempo em que percebemos grande lucidez e clareza, esta é absolutamente incompatível com a ação, porque não há motivo para fazer coisa alguma.
A morte do sonho traz uma experiência muito forte de solidão. Ao conversarmos com pessoas que vivem o drama de uma solidão muito intensa, em geral, deparamos com um sonho que morreu. Para tais pessoas, o afeto, a preocupação, a proximidade dos outros aprofundam ainda mais sua solidão. É como se o amor e a preocupação dos outros ao redor fossem absurdos e vazios, porque, sem o sonho, nada se articula, o sentido é negado e não se tem como acolher e muito menos retribuir carinho.
Muitas vezes a pessoa carrega em si um sonho que morreu, e ela não consegue abandonar e enterrar esse sonho, pois isso é assustador. É assustador porque a desilusão com um amor ou um ideal dá a impressão de que jamais ela poderá amar ou ter ideais de novo. Então, ela se agarra ao sonho morto, e este a escraviza na condição de ausência de sentido. É muito difícil nos aproximarmos da pessoa que vive esse momento.
O fim de um sonho é uma das formas de perda do sentido. Essa perda traz não apenas dor. A pessoa pode sentir que perdeu também exatamente o que fazia sua existência ser digna de ser vivida. É como se ela se sentisse ferida em sua dignidade. Desaparece o que tinha importância, e , nessas horas em que um sentido muito importante da vida se desarticula, o perigo é que isso arraste tudo o mais, num movimento que tende a escravizar todas as coisas de qualquer significado que ainda possam ter.
Na ausência de sentido, fica difícil viver. Mas se a pessoa compreender que, embora sonhos se acabem, a possibilidade de sonhar permanece, ela poderá restabelecer um sentido.
Depois de abandonar um sonho morto, é hora de começar a sonhar de novo; é hora de começar a habitar um novo sonho.
Que é habitar um sonho?
Sabemos que somos frágeis; por isso, precisamos de um lugar para morar. Isso vai além da concretude do lugar, queremos habitar “em casa”.
Mas a necessidade de habitar ainda vai mais longe. Dotados de linguagem, percebendo significados, e capazes de sonhar, o precisar “estar-em-casa” tem uma amplitude maior.
Precisamos habitar no sentido das coisas, habitar nossos sonhos, que são os grandes articuladores de sentido.
Quem já passou pela experiência de perder o sentido sabe o que isso quer dizer: chegar em casa e não ter mais casa, só um espaço vazio.
Habitar no sentido é a possibilidade de procurarmos.
Na condição de seres que sonham e vêem seus sonhos morrerem, há uma situação muito angustiante que se manifesta na tentativa desesperada de, ao sentir que um sonho esta acabando, querer preservá-lo de qualquer jeito, acima de toda a experiência. É a tentativa de radicalizar o sonho por não admitirmos que nada o ameace. Assim, o sonho já não é algo cheio de vigor, capaz de se confrontar e de se relacionar com as coisas; tornou-se um sonho moribundo, que não queremos deixar morrer. Para não o deixarmos morrer, começamos a ser cada vez mais agressivos com relação a tudo que o ameace. Já não habitamos mais o sonho, passamos a defendê-lo e nos tornamos escravos daquilo que esperamos a qualquer custo. Nisso, perdemos a liberdade.
A pessoa nessa situação não se dá conta de que, assim como é preciso habitar no sentido, como sonhadores, por outro lado, estamos destinados ao desenvolvimento, não podemos ficar parados lá atrás.
Nós temos de nos desenvolver. O desenvolvimento não é uma opção nossa, assim como não o são o sentido e o habitar. Precisamos nos des-envolver, des-cobrir nós mesmos e o mundo. Isso faz parte do nosso destino, entendido não como algo previamente definido e demarcado, como uma obrigatoriedade ou regido por uma causalidade férrea. Empregamos a palavra destino da mesma forma como a encontramos na estação rodoviária ou no aeroporto: “Atenção passageiros com destino a...”.
O que define o passageiro é o seu destino. Dessa mesma forma, também somos destinados a nos desenvolver na direção do horizonte para o qual caminhamos.
Somos destinados, mas podemos nos perder: podemos perder nossa morada no sentido, não saber o que fazer com a liberdade, sentir dificuldade para prosseguir em nossa direção. Nesses momentos é preciso cuidado...Talvez isso justifique termos dito, no início, que procura , é pró-cura, é para cuidar.
Estamos chegando a poder dizer que é a procura, via poiesis, pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido.
Somos todos lançados nesse processo que é a existência, pois recebemos a vida à revelia de qualquer decisão própria. Podemos decidir sobre possibilidades de rumos diferentes que queiramos seguir, mas há uma coisa que vale para todos nós: enquanto existimos, estamos destinados ao próprio desenvolvimento, habitando o sentido ao qual nos dedicamos na efetivação da nossa liberdade, radicada na verdade que liberta e que nós procuramos. Às vezes, perdemos esse sentido e então temos, pela via da poiesis, uma forma de reencontrá-lo."
João Augusto Pompeia e Bilê Tatit Sapienza
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Reflexão
"Quem
coloca ruidosamente a caça aos marajás no centro de sua vida está
lidando (mal) com sua própria vontade de colocar a mão no pote de
marmelada. Quem esbraveja raivosamente contra "veados" e travestis está
lidando (mal) com suas fantasias homossexuais. Quem quer apedrejar
adúlteros e adúlteras está lidando (mal) com seu desejo de pular a cerca
ou (pior) com seu sadismo em relação a seu parceiro ou sua parceira.
O exemplo da adúltera, aliás, serve para lembrar que a psicologia dinâmica, no caso, confirma um legado da mensagem cristã: o apedrejador sempre quer apedrejar sua própria tentação ou sua culpa."
Contardo Calligaris
O exemplo da adúltera, aliás, serve para lembrar que a psicologia dinâmica, no caso, confirma um legado da mensagem cristã: o apedrejador sempre quer apedrejar sua própria tentação ou sua culpa."
Contardo Calligaris
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
CURSO DE FENO (turmas de março aos sábados)
A PRÁTICA CLÍNICA SOB O ENFOQUE FENOMENOLÓGICO
EXISTENCIAL
OBJETIVO DO CURSO:
Oferecer subsídios teóricos e filosóficos a partir dos pressupostos daseinsanalíticos para a compreensão dos temas existenciais na prática clínica.
OBJETIVO ESPECÍFICO:
Primeira parte da aula: explanação teórica sobre o método fenomenológico, os temas existenciais e a compreensão da prática clínica.
Segunda parte da aula: reflexão, por parte dos alunos, a respeito dos temas existenciais
abordados. Essa reflexão tem como objetivo propiciar um espaço para que o aluno compreenda
de forma mais própria os temas existenciais vivenciados em suas vidas.
TEMÁTICAS:
- ser-no-mundo e ser-para-morte - angústia e cuidado
¬- autenticidade / inautenticidade - espacialidade e temporalidade
- compreensão e disposição - preocupação e decadência
- linguagem e discurso - cotidianidade e liberdade
PÚBLICO-ALVO:
Graduandos, graduados em psicologia, terapeutas e estudantes/profissionais de áreas afins.
CERTIFICADOS:
Os certificados de conclusão serão entregues aos alunos que freqüentarem, no mínimo,
75% das aulas dadas.
DOCENTE:
Vanessa Maichin – CRP: 06/6051-2
Mestre em práticas clínicas pela PUCSP
Formação em psicoterapia fenomenológico-existencial
Formação em daseinsanalyse
Professora de graduação na UNIP e de pós-graduação na UNIPAR
DATA e HORÁRIO:
Sábado das 10h00 às 12h00
Datas dos encontros: 8 e 22/03, 5 e 12/04, 10 e 17/05, 7 e 14/06
Início: 8 de março.
INVESTIMENTO:
5 parcelas de R$ 190,00 ( 5 cheques pré-datados)
LOCAL:
Rua Comendador Paulo Brancato, 141 - Vila Mariana (Próximo ao metrô Vila Mariana)
INSCRIÇÃO:
R$ 30,00
* a inscrição deverá ser realizada através de depósito bancário.
Banco do Brasil. Agência: 1191-6 Conta Corrente: 14628-5 em nome de Vanessa Maichin.
Para confirmar a inscrição, é necessário enviar um e-mail para vanessamaichin@gmail.com
contendo nome, telefone, e-mail e comprovante do depósito.
INFORMAÇÕES:
tel.: (011) 32073694 / e-mail: vanessamaichin@gmail.com
blog: souexistencialista.blogspot.com
**** Faça a sua inscrição, vagas limitadas ***
OBJETIVO DO CURSO:
Oferecer subsídios teóricos e filosóficos a partir dos pressupostos daseinsanalíticos para a compreensão dos temas existenciais na prática clínica.
OBJETIVO ESPECÍFICO:
Primeira parte da aula: explanação teórica sobre o método fenomenológico, os temas existenciais e a compreensão da prática clínica.
Segunda parte da aula: reflexão, por parte dos alunos, a respeito dos temas existenciais
abordados. Essa reflexão tem como objetivo propiciar um espaço para que o aluno compreenda
de forma mais própria os temas existenciais vivenciados em suas vidas.
TEMÁTICAS:
- ser-no-mundo e ser-para-morte - angústia e cuidado
¬- autenticidade / inautenticidade - espacialidade e temporalidade
- compreensão e disposição - preocupação e decadência
- linguagem e discurso - cotidianidade e liberdade
PÚBLICO-ALVO:
Graduandos, graduados em psicologia, terapeutas e estudantes/profissionais de áreas afins.
CERTIFICADOS:
Os certificados de conclusão serão entregues aos alunos que freqüentarem, no mínimo,
75% das aulas dadas.
DOCENTE:
Vanessa Maichin – CRP: 06/6051-2
Mestre em práticas clínicas pela PUCSP
Formação em psicoterapia fenomenológico-existencial
Formação em daseinsanalyse
Professora de graduação na UNIP e de pós-graduação na UNIPAR
DATA e HORÁRIO:
Sábado das 10h00 às 12h00
Datas dos encontros: 8 e 22/03, 5 e 12/04, 10 e 17/05, 7 e 14/06
Início: 8 de março.
INVESTIMENTO:
5 parcelas de R$ 190,00 ( 5 cheques pré-datados)
LOCAL:
Rua Comendador Paulo Brancato, 141 - Vila Mariana (Próximo ao metrô Vila Mariana)
INSCRIÇÃO:
R$ 30,00
* a inscrição deverá ser realizada através de depósito bancário.
Banco do Brasil. Agência: 1191-6 Conta Corrente: 14628-5 em nome de Vanessa Maichin.
Para confirmar a inscrição, é necessário enviar um e-mail para vanessamaichin@gmail.com
contendo nome, telefone, e-mail e comprovante do depósito.
INFORMAÇÕES:
tel.: (011) 32073694 / e-mail: vanessamaichin@gmail.com
blog: souexistencialista.blogspot.com
**** Faça a sua inscrição, vagas limitadas ***
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Liberdade de expressão
Quando você fala "Fulano é chato", esta é sua opinião pessoal sobre Fulano.
Quando você fala "Fulano é um viadinho chato", você está sendo homofóbico.
Quando você fala "Aquele cara é um idiota", esta é sua opinião pessoal sobre o cara.
Quando você fala "Aquele preto é um idiota'", você está sendo racista.
Quando você fala "Aquela mulher é um porre", esta é sua opinião pessoal sobre a mulher.
Quando você fala "Ela é um porre… MULHERES!", você está sendo misógino.
Quando você atribui características negativas a alguém, usando como base seu gênero, etnia ou orientação sexual, você está sendo preconceituoso.
Seres humanos têm defeitos e qualidades e isso não tem nada a ver com seu órgão reprodutor, com quem ou como essas pessoas fazem sexo e muito menos com a cor da pele.
É preciso parar de confundir racismo, machismo e homofobia com opinião.
Se você usa sua liberdade de expressão para ofender, inibir ou constranger outras pessoas, isso se chama opressão.
Texto: Maria Luiza Rodrigues
Quando você fala "Fulano é um viadinho chato", você está sendo homofóbico.
Quando você fala "Aquele cara é um idiota", esta é sua opinião pessoal sobre o cara.
Quando você fala "Aquele preto é um idiota'", você está sendo racista.
Quando você fala "Aquela mulher é um porre", esta é sua opinião pessoal sobre a mulher.
Quando você fala "Ela é um porre… MULHERES!", você está sendo misógino.
Quando você atribui características negativas a alguém, usando como base seu gênero, etnia ou orientação sexual, você está sendo preconceituoso.
Seres humanos têm defeitos e qualidades e isso não tem nada a ver com seu órgão reprodutor, com quem ou como essas pessoas fazem sexo e muito menos com a cor da pele.
É preciso parar de confundir racismo, machismo e homofobia com opinião.
Se você usa sua liberdade de expressão para ofender, inibir ou constranger outras pessoas, isso se chama opressão.
Texto: Maria Luiza Rodrigues
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Assinar:
Postagens (Atom)