domingo, 26 de fevereiro de 2017

Via Vênus Garden



"A palavra coração deriva do grego e do latim cor. Ambas têm origem na palavra hrid, do sânscrito, que significa saltar (Nager, 1993; Boyadjian, 1980; Acierno, 1994); em referência aos “saltos” que o coração realiza em resposta aos esforços e as emoções do dia-a-dia. Em português, coração vem do latim cor, da qual derivaram: coeur, em francês; cuore, em italiano; e corazón, em espanhol. Todas elas ramificações do latim. Uma exceção entre as línguas neolatinas recai sobre o romeno, que escreve inima, associado ao termo latino anima: alma. Muito antes da descoberta da função de bomba impulsionadora do sangue, o coração foi tido como centro da vida, da coragem e da razão. Seu símbolo é o mais universal. De onde, e, quando, surgiu essa representação, sempre despertou a curiosidade dos historiadores, vez que pouco tem a ver com o coração anatômico. Para alguns, sua origem deve-se à semelhança com a folha da hera, que na Antiguidade representava o símbolo da imortalidade e do poder. O coração participa no hinduísmo em diversos tipos de meditação e práticas; é com freqüência encontrado nos textos religiosos. É considerado lugar da "consciência pura", de Shiva, Brahman, Krisna, o deus absoluto (não-eu). Está além do tempo e do espaço, mas pode posicionar-se no coração físico ou um pouco mais à direita do centro, por meio do conhecimento. Para os sábios hindus, a consciência é o coração do hrdayam (hrd = coração + ayam = eu sou), o centro daquilo que somos realmente entre o centro e a totalidade. Para que se siga o caminho do coração, é necessário clareá-lo por meio da renúncia e sacrifício para que ele se torne um espelho mais acurado do self. O desejo de união com o self, é a meta, o que leva a imortalidade. O coração carnal e o espiritual fundem-se num só corpo na caverna do coração. Mais do que um órgão o Coração simboliza, universalmente, o amor."
Via A origem das palavras

Uma curiosidade bastante interessante é que a raiz etimológica da palavra “coração”, ou seja, cor ou cordis, deu origem a várias palavras da língua portuguesa. “concordar” é palavra formada do latim con + cordis, isto é, com coração. Quando duas pessoas concordam é porque seus corações estão juntos ou unidos. “Discordar”, por outro lado, é o oposto. Vem do latim dis (separar) + cordis. Quem discorda, portanto, afasta-se do coração do outro.
“Recordar”, por sua vez, quer dizer "trazer de novo ao coração". A expressão "saber de cor" também vem diretamente do latim: “saber de coração”, isto é, de memória. E, por último, vamos destacar a palavra coragem, do latim ação do coração.

Quando não concordamos com uma ideia, isso não significa que precisamos nos afastar do coração do outro, podemos com amor explicar o nosso ponto de vista e ouvir o do outro, afinal cada um tem a sua verdade, na sua realidade, e nossas almas estão aqui na terra em busca do amor e da evolução. <3

Arte: Por Carol Burgo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Medos


Um medo passou por aqui, deu um sinal de canto de olhar e me aguardou passar logo a frente, a espreita.

Outro fingiu que me olhava pelo espelho retrovisor de um carro com pressa, cruzando a cidade na madrugada fria.

Um terceiro, parado na porta de casa, me pedia insistente sua cota de atenção, energia e vida.

Juntos, tentaram apenas me imobilizar, pedindo apenas que eu consentisse que já não era mais capaz de viver sem eles.

Fizeram juras de amor, cantaram canções, fizeram promessas de fidelidade.

Foram agressivos. Me disseram que sem eles, sem a frustração que me traziam, eu seria fraco, apenas um pouco mais de nada em meio a um mundo de fortes, todos eles protegidos por seus medos fieis.

Por longos anos, hesitei, lhes concedendo frestas de razão, a vez e a prioridade nas tomadas de decisão.

Mas, subitamente, hoje não. Hoje, talvez, eu de fato não seja mais eu e não me procure neles, para firmar referencia e saber o que fazer quando a vida me pegar desprevenido.

Hoje não. Não tenho resposta, só carrego perguntas. Não tenho certezas, só carrego a mente que é capaz de produzi-las.

Hoje o tempo vai passar diferente, apenas aguardando o agora no momento seguinte.

Hoje só direi talvez. E não direi talvez como quem duvida de si, mas como quem assiste aos diversos si surgindo e desaparecendo diante de si.

Hoje o quando desaparece de mim e surge, como se fosse um antigo conhecido, dando lugar a coragem do vir a ser.

Hoje, e talvez apenas hoje, os medos não me encontrarão igual, rindo de minha previsibilidade perante suas velhas questões e minhas velhas respostas.

Hoje, não. Hoje despertei menino, veloz, traquina, risonho. Hoje só cabe ele no espaço de um dia.


Dalton Martins